Médico casado com humorista morreu de Covid-19 em 4 de maio de 2021. Luta contra melancolia e adaptação. Horas amargas, precisamos reencounterar em ausência. Identidade marcada por boas e horas difíceis, cicatrizes minhas.
Thales Bretas, esposo do comediante Paulo Gustavo, compartilhou suas reflexões sobre os três anos sem o parceiro, que faleceu em 4 de maio de 2021, devido a complicações da Covid-19.
Passing through this mourning process, Thales also highlighted the importance of healing and the gradual journey towards accepting the loss, while keeping Paulo Gustavo’s legacy alive. The path of grieving is personal and unique for each individual, filled with ups and downs, but ultimately leading to a place of peace and loving remembrance.
Reflexões sobre a morte, luto e a necessidade de reencontrar-se
Embora não seja comum para mim compartilhar abertamente sobre o luto, a realidade é que ele permanece dentro de mim, independentemente de minha vontade. Ninguém o deseja. No entanto, o que aprendi ao longo destes três anos é que ele está presente e estará sempre ao meu lado. Este sou eu agora, com todas as marcas que essa jornada deixou em mim.
O médico descreveu a partida de Paulo como algo que jamais será superado. Foi uma transformação irreversível, semelhante a um renascimento. Enquanto o nascimento simboliza a promessa de um novo começo gradual e progressivo, a morte representa a certeza de que um mundo chegou a um fim abrupto e irrevogável. Muitas pessoas me questionam como consegui ‘superar’ ou seguir em frente após uma perda tão devastadora. A verdade é que não se trata de superar. O tempo sozinho não cura. Ele nos mostra a necessidade de reencontrar a nós mesmos na ausência, na saudade, na modificação dos planos.
É inevitável que, para aqueles que ficam, a vida prossiga, mesmo que de maneira diferente. Como mencionou Bretas, há tanto por viver enquanto nos é concedido esse presente da vida. Um presente que reescreve o passado, reinventa o futuro e revela surpresas a cada segundo. Existem horas boas, horas amargas que podem ser absorvidas de imediato ou que deixam marcas como cicatrizes profundas, moldando-nos em indivíduos completamente novos, para sempre. E o que é o ‘para sempre’? É o tempo que possuímos para assimilar todas essas experiências enquanto nossa presença ainda ilumina o mundo a nossa volta.
Atualmente, é isso que sinto. Amanhã pode ser totalmente diferente. Contudo, as cicatrizes que carrego são parte essencial de mim, moldando minha identidade de forma única. Nunca serão a totalidade, mas certamente serão parte do meu ser para sempre.
Fonte: © Revista Quem
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