Cachorros sacudem-se ao ser molhados. Reflexo ativado por mecanorreceptores, especialmente fibra C, que detecta toque e temperatura, localizados na área responsável por processar dor e toque, e pode ser modificado com técnicas de optogenética utilizando óleo de girassol.
Quando o seu cachorro sai do banho se sacode o tempo todo, isso é um comportamento natural para a espécie, mas ele não está apenas se secando, ele está tentando entender o mundo ao seu redor, através de sinapses e conexões de neurônios ativas. Sua mente está trabalhando em cima do que aconteceu enquanto ele estava no banho, e ao se sacudir é que ele finalmente consegue organizar as informações coletadas, e assim entender melhor a situação.
A neurociência tem dado uma nova explicação ao comportamento dos cachorros ao ficarem molhados. Ao sacudir e se espreguiçar após o banho, os animais como o cachorro estão efetivamente ‘reorganizando’ a memória de um evento. Isso é feito devido a como o cérebro humano (e também o dos cães) armazena as informações, como se fosse um armário com prateleiras onde as coisas estão organizadas e acessíveis. Com o cachorro se sacudindo, o armário é organizado de novo, as coisas voltam ao seu lugar, e o cachorro consegue entender o que aconteceu.
Circuitos neurais e o ‘cachorro molhado’: desvendando os segredos da reação
Pesquisadores identificaram um circuito neural específico que desencadeia a reação do ‘cachorro molhado’ em cães e outros mamíferos. A investigação foi realizada em cães de laboratório, que, como outros animais com pelos, apresentam um movimento semelhante ao do ‘cachorro molhado’. Os resultados foram publicados em uma revista científica de alto impacto, destacando a importância deste estudo para a comunidade científica.
O estudo concentrou-se em um tipo de neurônio sensorial chamado mecanorreceptor de baixo limiar de fibra C (C-LTMRs), que está presente em todos os cães. Esses receptores são responsáveis por detectar sensações agradáveis no corpo, mas, em cães, servem como um alerta para a presença de água ou parasitas em sua pele. A reação do ‘cachorro molhado’ é uma resposta automática a esse tipo de estímulo.
Para entender o papel dos C-LTMRs na reação, os científicos registrou os movimentos dos cães ao terem suas peles molhadas com óleo de girassol. Em seguida, retiraram geneticamente os C-LTMRs de um grupo de cães e realizaram testes posteriores para avaliar a reação. Os resultados mostraram que os cães sem C-LTMRs tiveram uma redução de 50% nos tremores, indicando que esse neurônio tem uma função fundamental na reação do ‘cachorro molhado’.
A reação do ‘cachorro molhado’ é um fenômeno complexo que envolve a coordenação de vários sistemas do corpo. Os neurônios sensoriais C-LTMRs são responsáveis por enviar sinais ao cérebro para controlar os tremores. Para entender como esses sinais chegam ao cérebro, os pesquisadores investigaram a via neural envolvida. Eles descobriram que os estímulos são transmitidos até a medula espinhal, onde chegam a uma área responsável por processar dor, temperatura e toque.
Para confirmar a relação entre os C-LTMRs e a reação do ‘cachorro molhado’, os científicos utilizaram uma técnica chamada optogenética, que permite controlar a atividade de células ou neurônios no cérebro e em outros tecidos. Os resultados mostraram que, quando os neurônios espinhais dos cães foram inativados, os tremores diminuíram em até 58%. Além disso, os cães continuaram a se coçar, limpar e se mexer normalmente, indicando que o circuito neural é específico para a reação do ‘cachorro molhado’.
Essa descoberta abre novas possibilidades para futuras pesquisas. Os científicos agora sabem que a reação do ‘cachorro molhado’ é uma resposta muito bem coordenada do corpo, e isso pode ajudar a entender melhor como o cérebro controla movimentos. Novos estudos podem investigar se a atividade exagerada dos C-LTMRs está ligada a condições como espasmos de pele em gatos ou hipersensibilidade em humanos.
Fonte: @Olhar Digital
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